o caos organizado de Neville Brody

Na década de 1980, o trabalho do designer inglês Neville Brody ganha destaque pela mistura de tendências tão opostas quanto o modernismo e o pós-modernismo. O que antes era totalmente abandonado (racionalismo modernista), agora era reinventado com um viés pós-moderno. As escolhas tipográficas passam a ter menos importância do que o modo como são utilizadas.

O novo desafio é inovar com o que já é conhecido. Na visão de Brody, tornou-se inviável a luta por um desenho tipográfico inédito a cada trabalho. Um exemplo dessa nova mentalidade é o design da revista Arena, criação de Brody. Para os títulos, o designer usou nada mais do que a Helvética, símbolo tipográfico do modernismo. No entanto, o que garantiu o sucesso de sua criação foi a maneira inovadora como ele trabalhou a tipografia, como a sobreposição, alinhamento e uso das cores nas letras.

página dupla da revista Arena

A tendência do design contemporâneo, em resposta ao caos pós-moderno, é a de estruturar a anarquia, sem perder a espontaneidade. É criar um novo olhar em relação ao que já existe, sem abandonar a liberdade de expressão individual. Para tanto, o híbrido – a integração de formas geométricas com formas orgânicas, da simplicidade com o caos – torna-se terreno fértil e instiga a experimentação. O uso dos grids de composição são valorizados e utilizados com mais flexibilidade. A ideia de duas ou mais coisas acontecendo ao mesmo tempo é recorrente no design atual, haja vista o uso de técnicas de sobreposições e transparências, por exemplo. A interferência gráfica em fotos também é uma tendência que resulta numa mistura da realidade com a ficção.

O avanço da tecnologia digital e a evolução dos programas de edição de imagens e editoração – cada dia mais interativos – favorecem essas tendências do design contemporâneo por proporcionarem acesso fácil à manipulação de imagens e texto a qualquer usuário. Porém, a tentação de utilizar o computador como ferramenta principal da criação impede níveis mais profundos de pesquisa e reflexão. Por isso, o aprendizado permanente é indispensável. Conhecer o passado, resgatar os fundamentos básicos da história do design e permanecer antenado com o presente são condições favoráveis a novas ideias conscientes e consistentes.

Passado, presente e… experimentação consciente

Nascido em 1957 na Inglaterra, Neville Brody é um dos designers mais conhecidos e influentes da geração de 1980. Formado em design gráfico pela London College of Printing, em 1979, seus primeiros trabalhos foram projetos para capa de discos para editoras independentes, como Stiff Records e a Fetish. Uma de suas criações mais marcantes na época foi o trabalho para o grupo indie Cabaret Voltaire, que aproximava filme e vídeo à música experimental. A partir de então, Brody faz da tipografia uma vasta área de experimentação.

Em 1981, Brody torna-se o diretor de arte da Fetish, onde continuou com sua sede de experimentação. Desenvolveu a criação gráfica para bandas e músicos como Defunkt,
Level 42, Depeche Mode e James Brown.

Depeche Mode

Nos anos 1980, trabalhando na Lifestyle Magazine, Brody revoluciona o design editorial com layouts surpreendentes, agressivos, e tipografias criadas especialmente para a revista. Com tamanha notoriedade, Brody torna-se referência no design gráfico, e seu estilo passa a ser copiado por designers do mundo todo.

anúncios para revista

Seu trabalho foi reconhecido em várias revistas pelas quais passou; sua atuação na revista The Face foi marcante. Inovadores layouts de páginas tornam-se um mostruário dos recursos criativos de Brody.

capa da revista The Face

The Style Counsel na revista The Face

The Face: Madonna e Andy Warhol

Exclusivamente para a revista The Face, Brody criou a família de tipos Typeface e, a partir de então, com a ajuda da tecnologia digital, tornou-se também um renomado type designer. Entre suas muitas criações estão as famílias Blur, Industria, World e FF Dirt.

FF-dirt

Industria

Blur

No período de 1987 a 1990, Brody torna-se diretor artístico da revista Arena. Numa linha oposta ao seu estilo, experimentou uma linguagem mais racionalista e neutra. Também em 1987, Brody funda The Studio, em Londres, onde dá continuidade a seu estilo expressivo.

capa da revista Arena

Seu espírito pioneiro ganha força na publicação Fuse, revista criada pelo artista e que enfoca a tipografia digital. Nela, Brody abusa da experimentação de novos tipos e de sua aplicação em design gráfico.

cartazes FUSE

Em parceria com o também designer Erik Spiekermann, Brody funda a distribuidora de fontes FontShop (www.fontshop.com). A venda de fontes digitais on-line
torna-se um excelente negócio. No site, as tipografias encontram-se divididas por categoria (serifadas, sem serifa, script etc.), fundição tipográfica (ITC, Linotype etc.) ou designers, entre eles, obviamente, está Neville Brody.

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