As páginas de Elvira Vigna

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Desconstruir para reconstruir: reflexo de uma página em branco    @Raquel Matsushita

texto e ilustração: Raquel Matsushita

Elvira era uma construtora de literatura, da boa. Tanto da escrita como do desenho. Escreveu romances para adultos e livros para infância. Ilustrou vários livros infantis. Foi reconhecida e premiada em ambas carreiras. Era completa na sua incompletude. Por meio das suas narrativas, ela constrói um leitor ativo. De que maneira? Com a falta, as lacunas que deixa em aberto. Ela nos dá de presente o desafio de pensar. Uma página em branco. Preenchemos tais lacunas, ainda que não todas, com o que nos toca. Há uma intersecção entre o que ela escreve e o que faz sentido para nós, leitores. Sob esse aspecto, compreendemos as palavras dela: “eu escrevo chorando. Não é o motivo principal de escrever sozinha, isolada, mas é um dos motivos. É vergonha, porque de fato escrevo chorando pitangas. Aí, quando a pessoa chega perto de mim e chora também, eu acredito que ela tenha me entendido, e eu entendido ela. A gente está muito próximo.” Elvira não subestima o leitor, ao contrário, confia nele, cria uma parceria cúmplice, chega perto. Ela instiga, provoca e a gente sela essa união.

Quando eu lia o último romance dela, com o qual ela nos instiga já no título – Como se estivéssemos em palimpsesto de putas –, a editora de literatura da Positivo me convidou para ilustrar um livro da autora: Uma história pelo meio, reedição da obra de 1982. Aceitei na hora, pois estava completamente envolvida com Elvira pela leitura do romance adulto. Era como se eu, tão próxima dela, não pudesse negar. O meu desejo era realmente fazer o trabalho, mas sabia que enfrentaria um grande desafio pela frente porque a tal cumplicidade entre ela e o leitor – entre nós duas, portanto –, é uma cumplicidade de dois gumes. Nas palavras dela, “o escritor desestabiliza o leitor, procura fazer com que ele não tenha seus anseios atendidos – pelo contrário, faz com que tenha as suas certezas abaladas. É isso que qualquer arte digna do nome faz: destrói certezas, abre outras possibilidades”. Se no início deste artigo eu disse que Elvira constrói, agora reitero que ela também destrói. Elvira é pura dualidade, um reflexo da condição humana.

Não foi à toa que começei a narrativa visual de Uma história pelo meio com uma página em branco. Li e reli o texto por inúmeras vezes. Me senti acuada, sem encontrar um caminho para ilustrar esse livro tão ousado.

Elvira, há tempos, deu um recado para quem ilustra ao afirmar que a imagem não deveria repetir o texto, mas reinventá-lo. Ela faz do ilustrador também um leitor, trata todos da mesma maneira: deposita em nós a confiança do esforço de interpretação, já que pensar dá trabalho. Ela dizia: “Hoje, um texto — os meus e os dos autores de que gosto — não se fecha, ele necessita da contribuição do leitor para existir.”. Sendo assim, a boa leitura é uma ação complementar.

A partir desse entendimento, como se ela me convidasse para entrar numa brincadeira de corda que já estivesse pulando, me preparei com os braços a postos, contei três vezes e entrei no ritmo da corda para pular junto com ela.

Elvira era mesmo mestra em nos fazer pensar.

[As frases desse artigo foram tiradas da entrevista dada em novembro de 2013, no Projeto Paiol Literário, promovido pelo Jornal Rascunho].

Livro: Uma história pelo meio
Texto: Elvira Vigna | Ilustração e projeto gráfico: Raquel Matsushita
Editora Positivo, 2018
Mais sobre o processo.

um japão brasileiro

O livro Vovó veio do Japão (Cia. das Letrinhas) é um livro escrito a oito mãos por Janaina Tokitaka, Mika Takahashhi, Raquel Matsushita e Talita Nozomi. Projeto gráfico da Entrelinha Design.

Cada autora escreveu e ilustrou o próprio conto. O livro contempla as estações do ano em quatro histórias que trazem as lembranças vividas com as nossas obaatians (avó em japonês), tendo, como pano de fundo, um alimento da cultura japonesa.

No final do livro, há um caderno com as receitas mencionadas nas narrativas.

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Lançamento

O lançamento acontece no sábado, dia 01 de setembro de 2018, às 16h, na livraria Martins Fontes (av. Paulista, 509). Todos convidados!

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Processo

Abaixo, algumas imagens sobre o processo de criação. Leia a entrevista completa sobre o processo do livro no blog da editora Cia. das Letrinhas.

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Processo: Raquel Matsushita

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Processo: Raquel Matsushita

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Processo: Mika Takahashi

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Processo: Talita Nozomi

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Processo: Talita Nozomi

Mais no site da Entrelinha.

o sol de Yamada

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O livro “O sol de põe na tinturaria Yamada”, escrito por Claudio Fragata e ilustrado por Raquel Matsushita (Editora Pulo do Gato) acaba de ser lançado. Projeto gráfico da Entrelinha Design.

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Um pouco sobre o processo da ilustração aqui.

Uma pequena entrevista aqui.

Um trecho por Claudio Fragata aqui.

Mais do livro no site da Entrelinha.

tesouros em wynwood

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Wynwood (www.wynwoodmiami.com), em downtown Miami, veio pra desbancar o título de  “cidade das compras”. O consumo aqui não é somente das compras, mas também, das artes. A região, que antes era bastante deteriorada, hoje é um passeio artístico a céu aberto. Há grafismos por toda parte, de diversos estilos, lindos! Um grande número de galerias de arte oferece, além das exposições gratuitas, livros antigos para venda, uma espécie de sebo. Há também restaurantes deliciosos, com grafites por toda parte, é um momento híbrido de degustação com arte.

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O Brasil também está em Wynwood walls, muito bem representado pelos irmãos Os gêmeos (acima). A arte de rua encanta além dos muros: durante o passeio, as letras no chão te convidam a parar e refletir:

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Em visita à uma galeria (PanAmericanArt Projects), ao lado de obras de Leon Ferrari (em exposição e à venda), me deparo com uma mesa cheia de livros e revistas antigos também à venda. No meio deles, acho um tesouro: um livro que é uma compilação de textos de uma revista cubana (ISLAS), de 1967. Nela, vários desenhos maravilhosos, a traço, de Matisse, Picasso, Man Ray. Abaixo, destaco uma relação de imagens que possuem uma linguagem direta com a arte de Wynwood. Identificamos a linguagem gráfica dos grafites contemporâneos nos desenhos a traço, na estética letrista e na Op Art.

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Vontade não falta de reproduzir o livro todo aqui, belíssimo. A capa, num azul desgastado, apresenta somente uma imagem.

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Revista ISLAS – Volume IX – número 3
Universidade Central de Las Villas Santa Clara, Cuba.
Responsável pela edição: Samuel Feijóo
Julho a setembro de 1967.